20 anos da Internet

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20 ANOS DE INTERNET.BR

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20 anos da Internet

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Bem-vindo a 1º de maio de 1995. Você não entrou no Facebook nem viu mensagens no WhatsApp ou tirou dúvidas no Google. Nada disso é possível, já que esses serviços só serão lançados ao longo dos próximos 20 anos. Mas já dá para, ao menos, acessar a internet e mandar um e-mail.

Naquele dia, começou a ser oferecida no Brasil a conexão comercial à rede mundial de computadores, abrindo para pessoas comuns as possibilidades já disponíveis para acadêmicos e pesquisadores.

Nesta página, com formato inspirado no desenho do site que a Folha viria a lançar dois meses depois, em julho de 1995, você vai conhecer os pioneiros da rede no Brasil e saber como os internautas mudaram nessas duas décadas.

O INÍCIO

'Era como uma carroça', diz testador da internet

PIONEIRO Matemático Julio Botelho, que foi uma das primeiras pessoas a testar o serviço de internet no Brasil

BRUNO FÁVERO
DE SÃO PAULO

Esqueça a profusão de redes sociais, aplicativos e sites sobre todos os assuntos. Quando a internet chegou às casas dos brasileiros servia basicamente para trocar e-mails, falar em chats e discutir em fóruns.

"Você podia fazer mais ou menos o que fazemos hoje no Facebook. Mas se você imaginar que o Facebook é um carro moderno, a internet de então era uma carroça", brinca o matemático Julio Botelho, 72.

No ramo da tecnologia desde 1969, Botelho foi uma das primeiras pessoas a testar o serviço de internet comercial no Brasil e chegou até a ter um pequeno provedor de acesso.

No começo, conta, a inexperiência de alguns usuários com a nova rede gerava confusões.

"Um dia ligou um cliente que queria saber de qualquer jeito como ele ligava a máquina de fax dele à internet. E para explicar que não tinha como?", lembra Botelho. "Foi um trabalho de tentar descobrir o que podíamos fazer na internet e, ao mesmo tempo, ensinar o que aprendíamos para as pessoas."

Botelho fez parte de um pequeno grupo de testes organizado pela Embratel em 1994 para usar a internet antes que fosse aberta ao público. Naquele momento, só algumas universidades tinham acesso à rede mundial de computadores.

Depois desse período, o serviço começou a ser oferecido também para usuários comuns e a fila para conseguir uma conexão chegou a 6.000 pessoas. Ainda em 1995, o Ministério das Comunicações lançou uma portaria proibindo a companhia de atender usuários finais e determinando que ela apenas fornecesse estrutura para os provedores.

"Quando decidimos trazer a internet comercial para o Brasil, escolhemos testá-la antes com pessoas ligadas à indústria, jornalistas que cobriam a área", diz o engenheiro Helio Daldegan, coordenador do projeto de internet da Embratel à época.

Botelho era dono de um serviço de BBS (Bulletin Board System), espécie de pré-provedores de internet que permitiam mandar e-mails e participar de fóruns de discussão, mas só entre usuários de um mesmo país ou região.

Os serviços de e-mail oferecidos então até funcionavam internacionalmente, mas uma simples mensagem podia demorar horas para chegar ao destinatário.

"As mensagens eram recebidas e enviadas pelos BBS três vezes por dia, quando nos conectávamos à rede internacional; com o tempo, passamos a fazer isso uma vez por hora, diz Charles Miranda, que era sócio do BBS Hot-Line e também participou dos testes fechados da Embratel.

Com a chegada da internet, e-mails passaram a ser instantâneos e usuários brasileiros puderam acessar sites internacionais e serviços de chat, como o popular Mirc.

PRIMEIROS USUÁRIOS

Como seus donos ganharam acesso antecipado à rede mundial, os BBS acabaram se tornando os primeiros provedores de internet comercial do país, e seus clientes, os primeiros usuários. O BBS de Botelho, chamado Unikey, era um dos maiores do país, com cerca de 2.000 usuários.

Um de seus usuários era Rafael Cresci, 33, que na época tinha 13 anos.

A primeira vez que ele ouviu falar de internet foi durante uma conversa em um dos fóruns de que participava pelos BBS. Depois, ficou sabendo dos testes da Embratel e tentou participar, mas sua idade o impediu –era preciso ser maior de 18 anos, e seus pais não estavam dispostos a assinar um contrato para usar um serviço que mal sabiam o que era.

Teve então que esperar quase um ano, até que a internet comercial fosse aberta, para comprar um CD-ROM da Nutecnet, que lhe garantia 20 horas de acesso mensais por cerca de R$ 35 reais –sem contar, é claro, os gastos com a linha telefônica, que era usada para fazer a conexão com a internet.

"Aquele negócio de globalismo, de se sentir um cidadão do mundo e não só local, de se livrar de preconceitos locais e conhecer novas experiências e outras mentalidades, isso tudo realmente foi acontecendo com um empurrão da existência da rede na minha vida", diz Cresci.

No fim, a internet acabou virando profissão. Depois de entrar nas faculdades de engenharia e de relações internacionais e de desistir no meio dos cursos, Rafael fundou uma start-up de tecnologia, vendeu-a para um grupo americano e hoje trabalha como gerente de operações da empresa de computação em nuvem Enzu.

EMPURRÃO

Sua história não é incomum –vários dos primeiros usuários de internet acabaram trabalhando na área de tecnologia.

"A chegada da internet foi um marco muito importante porque ajudou a formar um público que chegou a vários cargos de liderança na indústria de TI [tecnologia de informação] no Brasil", diz Gustavo Fuchs, que começou a usar a internet com 15 anos e hoje trabalha como diretor da Microsoft em Dubai.

"Naquela época, eu era um adolescente apaixonado por computadores que estava em busca de informações, a internet foi um acelerador sem igual, o que me possibilitou concorrer em um mercado que era tradicionalmente focado em profissionais com muitos anos de experiência", conta Fuchs.

Um dia ligou um cliente que queria saber de qualquer jeito como ele ligava a máquina de fax dele à internet

Julio Botelho, dono de uma BBS