BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em 20 anos na internet, o brasileiro redescobriu o amor. As redes sociais e serviços de bate-papo se tornaram ambientes naturais para encontrar a alma gêmea, e histórias de casais formados na rede se tornaram comuns.
Aconteceu com "Eros SP" e "Loira SP". Ou melhor, com Eros Gori Netti e Paloma de Moura Gori, ambos de 32 anos. Em 2009, eles se conheceram em um dos primeiros ambientes virtuais onde o brasileiro começou a flertar, as salas do Bate-Papo UOL.
A conversa que começou na sala "de 20 a 30 anos" numa terça de Carnaval acabou em troca de alianças em setembro de 2012. "Não dominava muito bem essas tecnologias de salas de bate-papo, mas achei que era divertida a ideia de conhecer novas pessoas", conta Gori. Antes de eles se conhecerem, porém, o brasileiro já havia experimentado várias plataformas sociais: mIRC, Par Perfeito, Fotolog, Myspace e, claro, Orkut. Isso sem contar os mensageiros instantâneos, como o ICQ e o MSN.
Cada um desses serviços teve um certo apelo. Alguns focaram em imagem. Em outros, a pessoa tinha que ser boa de conversa. O importante é que a rede se tornou uma espécie de filtro para encontrar a pessoa ideal. "No Par Perfeito, eu fiz um cadastro que me permitia encontrar e ser encontrado por pessoas com as características que desejava", conta Márcio dos Santos, 31.
O paulista de Araçatuba encontrou no serviço digital a sua mulher, a goiana Cíntia Vaz, em 2004. Os dois estavam na semana de gratuidade do site. E dizem que não iriam pagar para continuar. Foi suficiente para se conhecerem e desenrolarem a relação no MSN.
VÍCIO
Com tanto amor para dar, não podia dar outra: o Brasil é viciado em redes sociais. Em setembro do ano passado, era o segundo país a passar mais tempo nesse tipo de serviço, segundo a consultoria comScore. Na lista de 60 países monitorados, aparecia atrás apenas dos Estados Unidos.
A média brasileira de tempo por visita em redes sociais, de 18,5 minutos, é superior à mundial, de 12,5 minutos. Com cada vez mais gente usando e se encontrando, ser um casal de internet também vai deixando de ser "papo de nerd". Eles enxergam suas relações como qualquer outra que começou, por exemplo, no bar ou no trabalho.
"Nosso relacionamento apenas começou pela internet. Ele não se manteve por ela. Com oito dias de conversa já nos conhecemos pessoalmente. De lá para cá, estamos praticamente juntos todos os dias", afirma gaúcha Luana Jahnke. Ela e o namorado são da fornada mais recente de pombinhos da rede. Ele se conheceram há um ano no Tinder, e tatuaram no pulso o logo do app como forma de marcar o ponto de partida da relação.
Mas nem sempre foi assim, principalmente para as famílias e amigos de quem encontra a tampa da panela em apps e redes sociais."A reação dos meus pais foi horrível", afirma Carolina Carneiro, 27. A mineira de Muriaé conheceu o namorado há dez anos no Fotolog. "Para o primeiro encontro rolar, tive que mentir e falar que ele era primo de um amigo meu. Meus pais são mais velhos e não entendiam bem a tecnologia. Eles tinham receio e não acreditavam muito no futuro desse relacionamento", diz.
SEM MEDO
Depois de duas décadas de romances, até quem se arrumou na internet passa a reprisar alguns desses medos. "Se fosse hoje em dia, com o aumento do acesso à rede no país, acho que não teria me envolvido pela internet", afirma Cíntia. "As dificuldades de acesso de certa forma peneiravam os malucos". Ainda assim, os casais da internet recomendam a rede para quem procura alguém. "Recomendo salas de bate-papo para os encalhados de plantão."
Se não achar ninguém, pelo menos se divertirá muito!", diz a "Loira SP".