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Introdução

O sambista sempre olha para trás na hora de seguir adiante

ALVARO COSTA E SILVA
COLUNISTA DA FOLHA

Registrado como "samba carnavalesco", "Pelo Telefone" foi o maior sucesso ("avassalador", segundo o jornalista Jota Efegê) do Carnaval de 1917 no Rio.

E isso é o que importa. Mais até que a autoria da música (provavelmente, uma criação coletiva) e se era ou não um samba (para alguns, é um maxixe, e houve quem o definisse como "tango-samba"). Com "Pelo Telefone", explodiu uma alegria que já dura mais de cem anos.

Logo José Barbosa da Silva, o Sinhô, um daqueles que frequentavam a casa de Tia Ciata na praça Onze e reivindicaram a autoria da novidade, chamou a si mesmo "Rei do Samba". Suas melodias eram simples e originais, caindo no gosto popular. "Jura" (1929) é o melhor exemplo de sua lavra, com forte refrão e o verso malicioso: "Um beijo na catedral do amor".

ESTÁCIO

Um segundo momento, não menos importante, acontece no fim da década de 1920. A turma do Estácio dá as caras: Ismael Silva, Nilton Bastos, Alcebíades Barcellos, o Bide, Armando Marçal, Silvio Fernandes, o Brancura, Rubens Barcellos, o Mano Rubem, Edgar dos Passos, o Mano Edgar, entre outros jovens, todos na casa dos 20 anos, negros e mulatos. E sem ocupação definida, a não ser o samba.

Eles começam a compor num ritmo menos sincopado, para ajudar na fluidez dos desfiles das escolas de samba, que surgiam. E atraem novos compositores para os redutos do Café Apolo e Bar do Compadre: os bambas de Mangueira, Cartola e Carlos Cachaça, e um rapaz da classe média de Vila Isabel, Noel Rosa.

Em "Se Você Jurar" (1931), junta-se à dupla Ismael Silva-Nilton Bastos o cantor Francisco Alves, um dos responsáveis, com Mario Reis, por levar o novo som para as rádios. De Bide e Marçal, "Agora É Cinza" (1934) é um dos maiores sambas de todos os tempos, de bela linha melódica, primeira e segunda partes nascidas separadamente, cada uma de um parceiro.

Nessa altura, até um inocente já sabia o que é sambar. E pipocam, do tronco original, os subgêneros, entre os quais o samba-choro; o samba de terreiro ou de quadra, base do repertório das futuras velhas guardas; o samba-exaltação de Ary Barroso e Alcir Pires Vermelho; o sincopado de Geraldo Pereira e Wilson Baptista nas vozes de Cyro Monteiro e Roberto Silva; o samba de breque cantado por Moreira da Silva e Jorge Veiga.

Pérolas do samba-canção como "Meu Nome é Ninguém" (1960), de Haroldo Barbosa e Luiz Reis: "Foi assim/ A lâmpada apagou/ A vista escureceu / Um beijo então se deu". O samba de gafieira, o samba de enredo, o sambalanço de Jorge Ben. E ainda a bossa nova de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto e sua batida de violão.

PAGODE

Um pequeno clube do subúrbio, o Cacique de Ramos, é o palco de mais uma pequena revolução ou ruptura na linha evolutiva, a partir do fim dos anos 1970. Um pagode de mesa que muda a maneira de cantar, compor e, sobretudo, tocar samba.

Com o Fundo de Quintal, surgem adaptações de instrumentos: o repique de mão de Ubirany, o tantã de Sereno e o banjo com braço de cavaquinho de Almir Guineto. Não à toa, ao celebrar as reuniões à sombra da tamarineira, Luiz Carlos da Vila versa em "Doce Refúgio": "Lá do samba é alta a bandeira".

Na virada para os anos 2000, a geração da Lapa, formada por cantores (Teresa Cristina, Pedrinho Miranda, Marcos Sacramento, Pedro Paulo Malta, Alfredo Del-Penho) com veia de pesquisadores, mostra-se fascinada pela tradição.

Natural: o samba sempre olha para trás na hora de seguir adiante. Mas é preciso sacudir o esqueleto com propostas mais ousadas e, sempre, novas composições.

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